Análise: os dez pontos que estão decidindo a campanha presidencial

Entramos na semana decisiva do primeiro turno. A tensão comum a este tipo de momento provocará muito ruído – muita sujeira informativa que pode atrapalhar você a entender os rumos da eleição. Cuidado com mensagens de WhatsApp. Redobre a atenção: a chance de ser enganado por desinformação ou fake news, provavelmente produzida  por alguma das campanhas, é razoável. Afinal, agora é tudo ou nada.

Dez pontos que sabemos ou são altamente prováveis:

  1. Haverá segundo turno. Bolsonaro está num bom momento. Mas os votos em Haddad são firmes e a fragmentação de candidatos são empecilhos suficientes para uma vitória do capitão reformado no primeiro turno;
  2. O segundo turno será disputado entre Bolsonaro e Haddad. Ciro não tem meios, como confirmam as últimas pesquisas, de convencer o eleitor a trocar Haddad por ele – a força gravitacional do apoio de Lula impede esse movimento. Bolsonaro e Haddad apresentam os maiores índices de votos convictos. Nada indica que isso possa mudar;
  3. Haddad será severamente testado nos últimos dias do primeiro turno. A rejeição do petista subiu de 27% para 38% no Ibope divulgado ontem, embora ele tenha mantido 21% de intenções de voto. Isso significa que o eleitor começou a associar Haddad ao passivo do PT. Esse índice veio antes da performance ruim de Haddad no debate de domingo e, sobretudo, da divulgação de um trecho da delação de Palocci. O petista deve receber novos ataques antes do primeiro turno. Se repetir a atuação anódina no debate da Globo na quinta, Haddad pode chegar enfraquecido ao segundo turno;
  4. A campanha do PT está cometendo erros estratégicos graves. As falas de Dirceu, o reconhecimento de Haddad de que pode tentar uma nova Constituinte, as visitas a Lula, Gleisi voltando ao debate público: tudo isso reforça a imagem de radicalismo do PT, que o candidato tentava evitar com sucesso até a semana passada;
  5. O processo de desconstrução de Haddad, que poderia se iniciar no segundo turno, foi antecipado. O petista terá que reagir sob pressão e em meio a uma campanha dividida – há brigas internas no PT sobre os rumos a se tomar. É importante ressaltar que Haddad nunca disputou uma eleição desse calibre. A reação dele à blitzkrieg desta semana dirá muito sobre a capacidade do candidato de fazer uma campanha competitiva no segundo turno;
  6. Nas ruas, a força de Bolsonaro supera o movimento #elenão. Os protestos de sábado foram significativos, embora concentrados no Rio e em São Paulo. Aparentemente apenas expressaram a posição de quem já era contra Bolsonaro. Não houve contágio para outros segmentos do eleitorado; isso, contudo, ainda pode acontecer em outro momento da campanha. As demonstrações em favor de Bolsonaro ocorreram em mais cidades e com mais barulho. Apontaram o apoio maciço do candidato em grande parcela do eleitorado;
  7. A chave para entender esta campanha segue sendo o lulismo versus o anti-lulismo. Pode-se substituir lulismo por petismo. Parte da população associa a calamidade econômica do país a Temer, e não a Dilma, e quer a volta aos tempos de bonança com Lula. Outra parte, talvez mais expressiva, tem um objetivo nesta eleição: impedir a volta do PT ao poder. Há eleitores fiéis de Bolsonaro, sem dúvida, mas a força motora da candidatura dele é o anti-lulismo; é essa força que capturou eleitores que eram do PSDB em 2014;
  8. Há uma terceira parcela do eleitorado, cerca de 30%, que não quer a volta do PT mas rejeita Bolsonaro. São eles que decidirão o segundo turno. Ainda é cedo para desenhar a dinâmica do segundo turno (muita coisa muda a partir do dia 8), mas vale ficar atento aos anseios desse eleitorado;
  9. Provavelmente teremos uma campanha destrutiva, em que os dois candidatos precisarão atacar em busca do aumento da rejeição do oponente. Para ser presidente, Bolsonaro precisa diminuir sua rejeição e aumentar a de Haddad. O candidato do PSL tem feito gestos a mulheres – segmento no qual cresceu, aliás – e apelos de moderação em algumas mensagens nas redes sociais. Ainda não funcionou. Pode funcionar no segundo turno, no qual ele terá tempo de TV e maior exposição para apresentar um discurso mais moderado. Haddad, por sua vez, precisará atacar Bolsonaro – não haverá mais Alckmin por perto para fazer isso por ele. E terá que controlar os radicalismos do PT, suavizar as menções a Lula; e
  10. Ao mesmo tempo, num segundo turno propostas se tornam importantes. Não bastará bater no adversário. Esse difícil equilíbrio, a ser definido na estratégia de cada candidato, poderá decidir a eleição. As propostas serão especialmente relevantes no final do segundo turno, quando a pancadaria cansar os eleitores. Nesse momento, Haddad e Bolsonaro terão que apresentar projetos simples e de apelo para a população. O petista leva vantagem nesse quesito, ao menos por enquanto.

 

 

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