Uma análise sobre a máquina de desinformação partidária que agride nossa democracia

Após anos de uma frente anticorrupção nos MPs e nas polícias, reunida sob o nome de Lava Jato, envolvendo centenas de funcionários públicos em diversos estados, alguns – e eles estão à esquerda – insistem em partidarizar toda ação de combate aos crimes de colarinho branco.

Cria-se um mundo paralelo. Nele, procuradores e promotores, delegados e agentes, profissionais da Receita, do TCU e da CGU, além de juízes, agem a serviço de interesses partidários inconfessáveis. É uma sandice, sem qualquer base factual.

Esse rótulo, essa atribuição de partidarização, serve ao simples propósito político de retirar legitimidade das decisões judiciais. Também permite esvaziar ou distorcer fatos incômodos – permite criar a infame narrativa. A cúpula do PT, em verdade, faz isso desde o mensalão.

O mesmo rótulo de partidarização, a mesma estratégia de propaganda política, foi e é aplicado pela cúpula do PT contra jornalistas que, como não deveria ser diferente, buscam os fatos, tenham seus trabalhos virtudes ou deméritos.

Esse bullying político visa não só a obliterar a noção civilizatória de verdade factual mínima. Visa a destruir os tais adversários – operadores do Direito e jornalistas – por meio da destruição da verdade, de uma realidade assentada em fatos, não em fantasias ideológicas.

Reparem que separo propaganda política disfarçada de opinião jurídica das necessárias e sempre bem-vindas críticas sobre a atuação de procuradores, policiais, juízes, jornalistas. Opiniões e debates plurais acerca de assuntos e casos jurídicos complexos são fundamentais.

O que critico aqui, portanto, e mais uma vez, não são os debates acerca das prisões preventivas, do uso da delação premiada, da execução provisória da pena após segunda instância, entre tantos outros. Muito menos desses temas aplicados a casos concretos – seja de Lula, seja de Temer, seja de Aécio.

Critico a antiga e incessante máquina de desinformação que despreza fatos e inventa outros com fins político-partidários. Ela segue firme, produtiva, desde 2005, desde o mensalão. É uma máquina de destruição de princípios democráticos, financiada em parte com grana do petrolão, como restou demonstrado por evidências colhidas nas investigações.

O que estou qualificando como máquina existia antes das redes sociais e antes de termos como “fake news” entrarem no nosso léxico. Os mais antigos sabem do que falo – e conhecem o efeito dessa máquina na nossa democracia, nas nossas possibilidades de tolerância cívica e de convivência política.

Sem uma base comum de fatos aceitos por todos, estaremos sempre separados, sem possibilidade de dialogar, seja para concordar, seja pra discordar. Estaremos irremediavelmente desunidos como nação. Como talvez estejamos neste momento.

A função da imprensa é prezar por essa base comum de fatos. Nós, jornalistas, erramos muito. Podemos e devemos ser criticados. Mas zelar pela integridade dos fatos públicos é a nossa missão mais primordial.

Nós ajudamos a arbitrar quais são os fatos públicos – o que é real, no sentido mais elementar. Para que você possa ter uma opinião sobre eles. Lembre-se: você tem direito às suas opiniões, não aos seus fatos.

3 comentários em “Uma análise sobre a máquina de desinformação partidária que agride nossa democracia

  1. Apreciei muito o seu trabalho, é esclarecedor! Pena que a maioria dos brasileiros não tenha luz própria e continua caminhando na sombra…
    O que fazer? O que fazer para que a nação brasileira acorde?

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