Lula é a chave para interpretar o Datafolha – e não o atentado contra Bolsonaro. Este consolida sua candidatura; Haddad começa a viabilizar a do PT

Ainda que não metabolizada completamente pelo eleitor, a saída de Lula do cenário presidencial explica, em larga medida, as duas principais tendências observadas no Datafolha. O atentado a Bolsonaro causou ampla comoção e especulações variegadas. Mas a ausência de Lula é um fator muito mais relevante para o desenho do novo cenário eleitoral.

Às duas tendências (tendências, não certezas):

A primeira: Bolsonaro consolidou fortemente sua candidatura. É difícil – não impossível – enxergar um cenário em que ele não esteja no segundo turno.

  •  Pela primeira vez, Bolsonaro lidera em quase todos os segmentos do eleitorado – por renda, região, idade, escolaridade. Só perde no Nordeste. Onde antes ficava em segundo, assumiu a liderança em virtude da queda de Marina – uma queda homogênea, que afeta todos os segmentos.
  • Não é pouco. Bolsonaro, vejam só, lidera entre as mulheres. Passou de 14% a 17%. Bolsonaro subiu bastante entre eleitores de 35 a 49 anos; de 17% para 25%. Entre os que têm ensino superior, subiu de 27% para 30%
  •  Bolsonaro subiu e lidera entre os mais pobres. Ampliou consideravelmente sua vantagem entre a classe média – de 32% para 38%. Oscilou negativamente entre os mais ricos. Ou seja, lidera entre os mais ricos, a classe média e os mais pobres.
  •  O dado desesperador para Alckmin: Bolsonaro subiu de 22 para 27% no Sudeste.
  • Diante das eficientes peças de Alckmin contra Bolsonaro, é possível que a onda de solidariedade ao candidato, se existiu, tenha servido para amenizar a queda que ele, Bolsonaro, provavelmente sofreria em função dos spots.

A segunda tendência: começou a transferência de votos de Lula para Haddad. Não na velocidade esperada, visto que Lula ainda não deu o sinal para que Haddad o substitua – isso deve acontecer hoje.

Ainda assim, o crescimento de Haddad é notável e relativamente homogêneo – quanto mais homogêneo, mais saudável. Partindo-se da premissa mais provável de que Lula e o PT não errarão no processo de transferência de votos, Haddad segue com grandes chances de ir ao seguno turno. Nesse caso, com possibilidade real de vencer, se Bolsonaro mantiver altos índices de rejeição. (Os de Haddad são bem mais baixos.) Alguns dados que mostram a subida substantiva de Haddad:

  • Entre eleitores de 25 a 34 anos, Haddad disparou: de 3% para 10%;
  • Haddad subiu entre os eleitores mais fiéis a Lula. Entre os com menor escolaridade, foi de 2% para 8%. O mesmo se deu entre os mais pobres. No Nordeste, Haddad subiu de 5% para 13%.

Aspectos secundários da pesquisa:

1) Ciro ganha onde Marina perde. Haddad também ganha. Marina está, ao menos momentaneamente, sendo esquecida pelo eleitorado lulista. Ciro, contudo, sem tempo de TV, estrutura partidária e redes sociais fortes, terá que operar um milagre nas próximas semanas para impedir a transferência de votos de Lula para Haddad. Um milagre para capturar o possível lugar do petista no segundo turno.

2) O fator Amoêdo segue relevante para o desfecho do primeiro turno: subiu de 5% para 8% entre os mais escolarizados. Agora está com 3%. Somando seus 3% aos 3% de Álvaro Dias e aos 3% de Meirelles, desenha-se um cenário em que a fragmentação do voto anti-petista torna a missão de Alckmin ainda mais difícil. Como se viu acima, não está sendo fácil subtrair votos de Bolsonaro no primeiro turno.

3) A notável rejeição a Bolsonaro, a maior entre os candidatos, mantém o entrave para que o candidato vença no segundo caso, se chegar lá. Não é certo que a rejeição atual significaria a derrota dele. Mas, se Bolsonaro não mudar sua estratégia de modo a vencer a resistência de parte do eleitorado, caminhando um pouco que seja para o centro, suas chances serão limitadas, na melhor das hipóteses.

 

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