Em termos puramente estratégicos, Jair Bolsonaro foi bem na entrevista ao “Jornal Nacional”. Ele, que terá escasso tempo de TV na campanha, aproveitou a oportunidade única de falar para milhões de brasileiros que não o conhecem tão bem e não se informam pela internet – terreno onde o candidato já se mostrou eficiente. Bolsonaro:
- Transmitiu sua mensagem de combate duríssimo aos criminosos, uma abordagem que tem apelo para muitos segmentos do eleitorado. A segurança pública é uma das principais preocupações dos brasileiros. Bolsonaro apresentou sua diretriz claramente – não se discute aqui se ela é legalmente correta e politicamente viável. Muitos eleitores ouviram o que queriam.
- O mesmo vale para o campo dos costumes: ele usou, de modo teatral, um dos temas que mais mexem com os pais e as mães – o ensino infantil da sexualidade, em linhas gerais – para reforçar sua postura conservadora, do que é ou não uma família. Comunicou-se com parcela expressiva do eleitorado.
- Não cometeu erros: apesar de novato em campanhas presidenciais, o candidato segurou 30 minutos de uma entrevista dura. Os marqueteiros costumam dizer que ir bem no JN é apanhar e sair vivo – a entrevista costuma ser combativa, de confronto e busca de contradições do entrevistado. Bolsonaro soube apanhar. Foi confrontado com contradições já conhecidas. Saiu-se com evasivas. Não foi instigado a falar sobre o que admite não conhecer.
Como em situações desse tipo, aqueles que odeiam Bolsonaro tenderão a acreditar que o candidato foi mal. Os apoiadores dele, em contrapartida, ficarão satisfeitos com a performance. A paixão e as emoções costumam se sobrepor à racionalidade, especialmente em campanhas.
Tecnicamente, porém, Bolsonaro foi eficiente. A entrevista é mais um fato político relevante a seu favor. Provavelmente ajudará na consolidação das intenções de voto do candidato. É incerto, no entanto, se indecisos foram conquistados; e improvável que a alta rejeição dele tenha se alterado.
Ao menos para chegar ao segundo turno, Bolsonaro segue trilhando um caminho promissor. A entrevista ao JN pode revelar-se, a depender de variáveis que não estão ao alcance do candidato, um ponto importante dessa trajetória.
Concordo com sua análise, que ele passou sem grandes riscos, reforçou suas teses para o seu público, entretanto acho omissa sua análise na medida em que não fala do principal eleitor e indeciso, que esse sim Bolsonaro mais uma vez perdeu e feio, que ao ser acuado e confrontado por uma mulher jornalista, somente reforçou seus esteriótipos, como já havia sido no confronto com Marina, e aumentou a distância e provavelmente a distância das eleitoras, senão ouvi ou li errado, hoje são 52% do eleitorado e representam quem 80% do indecisos. Logo para quem quer ser presidente não há como abandonar esse público, além disso na medida que só olha ao seu público Bolsonaro abre um flanco muito grande, na sua estratégia de ir ao 2 turno, pois ficará depende da convicção desses seus 20% de eleitorado, sendo que nem este é tão convicto assim, ou seja, dos 100% dos seus eleitores em torno de 60% são convictos, diante de um arsenal e gigantesco tempo de televisão dos seus concorrentes isso é uma incógnita mas também um risco enorme de perca de votos e a não passagem para 2 turno.
Agree.
Acredito que quem perdeu foi o público. A Globo querendo desconstruir o candidato e o Bolsonaro desmascarando a Globo .
Um debate de exploração de ideias e não de agressão teria sido mais produtivo.
Diego, qual o problema dos jornalistas que ficam todo o tempo querendo “lacrar” e não fazem sequer uma pergunta relevante aos candidatos?